terça-feira, 24 de julho de 2012

Feng Shui e o Tempo-Espaço

Os fundamentos da técnica Xuan Kong Fei Xing

O início de qualquer estudo sempre nos leva a querer conhecer mais e mais, principalmente aspectos mais avançados ou que sejam mais difíceis de serem compreendidos. Temos sempre a tendência de querer cortar caminhos, chegando mais rápido ao nosso objetivo final: conhecer com mais profundidade o assunto que estamos estudando. Quando falamos, por exemplo, da medicina chinesa, os estudantes querem logo saber como colocar agulhas, quais os pontos de acupuntura que são bons para certas desarmonias (os chineses não chamam pelo nome de doença) e o que fazer em casos mais comuns.

Já no caso próprio do Feng Shui, as pessoas que começam a estudar suas teorias básicas sempre pensam em avançar nos estudos rapidamente, principalmente para a prática de uma técnica que envolve os ciclos do tempo. Derivada do nome em chinês Xuan Kong Fei Xing, mas muito conhecida como a técnica do tempo-espaço ou estrelas voadoras, essas teorias são um dos conceitos mais avançados em todo o Feng Shui. É difícil dizer os motivos dos atuais profissionais de Feng Shui não escreverem muito sobre este tema. Analisando a questão rapidamente, podemos levantar alguns pontos que exprimem por si próprios os possíveis motivos:

▪ dificuldade em escrever sobre um assunto tão complexo

▪ medo de compartilhar o conhecimento para evitar concorrência

▪ falta de tempo (estamos todos sujeitos a isso)

▪ falta de conhecimento suficiente para colocar as idéias em termos simples e compreensíveis

Para conhecer a filosofia chinesa que sustenta o Feng Shui e as outras disciplinas chinesas é necessário entrar no sistema de idéias e no universo em que se formam, sem preconceitos e com uma mente aberta, com o maior grau de objetividade possível. Sem dúvida, isso não implica que o investigador renuncie a seu próprio sistema, não apenas por razões de identidade, mas porque quando alguém adquire um conhecimento importante, tem a responsabilidade social de difundi-lo. Para divulgá-lo e compartilhá-lo em nossa sociedade atual é necessário fazer sua "tradução".

Devemos fazer o esforço de traduzir o conhecimento do Feng Shui e seus fundamentos em fórmulas compreensíveis para o mundo ocidental. Aquilo que não tem fundamentos místicos não tem porque ser apresentado como místico. Mas, não podemos esquecer que o misticismo é um fato, existe e é muito humano, pois na nossa condição de seres racionais podemos utilizar o que não podemos explicar. Talvez o conceito de energia cósmica que a filosofia chinesa compartilha com muitas outras filosofias não seja um conceito que possa ser reduzido (ou elevado) a condição de algo sobrenatural?

Diferentes pessoas possuem diferentes estruturas de pensamento. Algumas possuem a oportunidade de avaliar a visão cartesiana predominante e compartilhada do mundo e colocar em questão o sistema de idéias e crenças que sustentam o conhecimento científico atual.

Deus joga dados?
-- Ian Stewart

Para elas, é extremamente importante o conhecimento e a transparência com que transmitem os aspectos que muitas vezes são difíceis de conjugar: conhecimento técnico, filosofia, missão pessoal, transcendência social e perspectiva comercial, esta última entendida como a capacidade de fazer sustentável e viável a mais ampla difusão do que alguém conhece ou crê. Com essas idéias em mente, vamos analisar detalhadamente as bases da técnica Xuan Kong Fei Xing e como elas se aplicam no uso prático.

Lo Shu e Ho Tu

Praticamente todas as teorias do Autêntico Feng Shui foram derivadas de dois gráficos que representam movimentos de energia. Existem muitas histórias que nos dizem como eles se originaram, estando sempre cercadas de mistério e personagens históricos, como Huang Ti, o famoso Imperador Amarelo, o primeiro imperador da China. O estudo da história textual de antigos clássicos chineses pode ajudar muito no processo de entendermos ou, melhor dizendo, tentarmos entender as relações históricas do desenvolvimento de conceitos. Para isso é necessário analisar as informações de acordo com os modernos métodos ocidentais de críticas textuais, tais como os de Vinton Dearing. Harold Roth em seu magnífico trabalho de história textual do Huai-Nan Tzu, elaborou algumas relações do motivo desse tipo de estudo ser tão importante:

"Os sinologistas têm muitas vezes se preocupado mais com os resultados finais da transmissão textual do que com o processo real. Nós temos esquecido que muitos dos antigos textos que chegaram até nós foram originalmente escritos em materiais perecíveis tais como bambu, madeira, seda e papel. Dessa forma, estiveram sempre sujeitos a uma grande variedade de fenômenos destrutivos. Além disso, os trabalhos foram copiados de geração para geração e freqüentemente editados por diferentes princípios metodológicos, contaminados com erros ou com trabalhos negligentes. O efeito acumulativo pode levar a mudanças em apenas algumas passagens, alguns capítulos ou mesmo em trabalhos inteiros".

Com isso em mente, fica mais fácil entendermos o motivo de muitas teorias do próprio Feng Shui não serem fáceis de serem explicadas, principalmente quando estamos nos referindo às suas origens.

Sabemos que a maior parte dos estudantes sérios do Feng Shui são sinófilos, o que nos leva a supor que algumas vezes farão de tudo para poderem explicar algum fato ou teoria. Apenas não devemos querer inventar dados que possam explicar fenômenos, principalmente quando estamos nos referindo ao conceito do tempo-espaço.

Uma das mais básicas diferenças entre o Lo Shu e o Ho Tu é relacionada à dinâmica de energia. Eles formam a base do I Ching, expressando várias possibilidades de utilização. O Lo Shu é a expressão da energia na Terra, enquanto o Ho Tu representa a energia cósmica, a maneira como se distribui no universo.



O estudo das teorias avançadas do Feng Shui exige o conhecimento detalhado das propriedades do Ho Tu e do Lo Shu e os relacionamentos existentes entre eles. Embora, à primeira vista, eles pareçam apenas gráficos com pontos pretos e brancos distribuídos aleatoriamente, sua análise detalhada nos mostra a estrutura do DNA e do RNA humanos. Fica fácil supor que os antigos chineses sabiam exatamente o que estavam fazendo.

O elemento tempo

O Feng Shui utiliza o calendário chinês para determinar seus ciclos de influência. É importante dizer que estamos falando do calendário solar chinês, e não do lunar. Existem grandes diferenças em como eles interpretam o início do ano, e conseqüentemente, a divisão do tempo, que é caracterizada de acordo com o calendário solar da seguinte forma:

1 período = 20 anos

1 ciclo = 3 períodos = 60 anos

1 era = 3 ciclos = 9 períodos = 180 anos

1 época = 20 eras = 60 ciclos = 180 períodos = 3600 anos

Para os propósitos do Feng Shui consideramos um período (20 anos), como a principal influência sobre a distribuição energética. Como isso influencia as pessoas? Ora, é importante salientar que o Feng Shui exerce seus efeitos sobre as construções e não sobre as pessoas. Manipular a energia das pessoas é feito com outras práticas, como a medicina chinesa, tai chi chuan, chi kun, kung fu ou mesmo interpretá-las por intermédio da astrologia chinesa. Mas, como estamos falando de construções em que as pessoas vivem e trabalham, fica claro que elas exercem efeitos nas pessoas que estão interagindo neste ambiente. Nós não podemos ser influenciados pela energia de uma casa onde não estamos vivendo. Para deixar claro um ponto: o Feng Shui manipula a energia das construções e não das pessoas.

Os ciclos, que são divididos em 3 períodos de 20 anos cada totalizando 60 anos, são a principal divisão para a técnica Xuan Kong Fei Xing. Com o conhecimento desses ciclos, podemos determinar qual a qualidade e o tipo de energia que influenciará nossa casa. Através da direção em relação ao norte magnético e a data de construção - dados vitais para a utilização dessa técnica - podemos determinar os tipos de energia de cada local e como elas irão influenciar as pessoas. Isso é muito semelhante ao conceito de Einstein chamado Espaço-Tempo, resultante da teoria da relatividade que diz que o espaço e o tempo estão intimamente conectados.
Espaço e tempo são elementos de linguagem que
um observador usa para descrever um fenômeno.

Com esses conceitos em mente, fica fácil estabelecer relações com o chamado Efeito Borboleta, no qual pequenas ações provocam conseqüências gigantescas. Como esse efeito interage com o Feng Shui?

O Efeito Borboleta, ou mais tecnicamente de acordo com Gleick, "a sensível dependência nas condições iniciais" é a essência do caos. Essa relação foi descoberta por Edward Lorenz em 1961, quando fazia experiências com cálculos meteorológicos. Embora nos referimos ao nome borboleta, a única referência que existe nos documentos de Lorenz é o seguinte comentário:
"Se a teoria estiver correta, o bater de asas de uma gaivota é
suficiente para alterar o curso do tempo para sempre".

A gaivota transformou-se na poética borboleta, principalmente pela figura encontrada após as mudanças das condições iniciais na previsão do tempo em seu antigo (e totalmente obsoleto) computador.


Os cientistas dizem que pequenas mudanças iniciais levam a grandes modificações nas ações seguintes, o que concorda perfeitamente com o estudo avançado do Feng Shui. A resposta para isso está na natureza das equações, que são não-lineares. Elas são o centro do caos e oferecem uma fantástica complexidade de ações caóticas.
O caos, em uma linguagem simples, implica na existência de ações imprevisíveis. Se alguma coisa é caótica ela não é aleatória. Isso não deve ser entendido como um movimento desorganizado ou confuso, como sugere a própria palavra. O significado científico do caos pode ser resumido na seguinte frase:
O caos freqüentemente cria a vida, quando a ordem cria o hábito
-Henry Adams
O caos expressa três importantes princípios:
▪ Extrema sensibilidade das condições iniciais
▪ Causa e efeito não são proporcionais
▪ Não linearidade
A sensibilidade das condições iniciais pode ser traduzida nos termos do Feng Shui quando referimos a diferentes utilizações de um mesmo espaço. Por exemplo: um prédio com dez andares e dez apartamentos. Todos possuem a mesma direção e a mesma data de construção. Mas, o uso de cada apartamento é diferente, seja pela decoração, pelas atividades e pelas pessoas. Lembre-se que existem quatro influências no Feng Shui: construção, tempo, ambiente e pessoas. Essas são as condições iniciais para o estudo do Efeito Borboleta do Feng Shui.
Determinismo ou probabilidade?
A complexidade reflete uma mudança do padrão reducionista e determinista para uma aproximação mais holística e probabilística. Uma mudança no universo mecanicista de Newton, que é determinista e compreensível pelo reducionismo (teoria segundo a qual um fenômeno pode ser explicado a partir de seus pequenos detalhes), leva a uma visão mais holística através da relatividade, da aceitação da dualidade da matéria como partícula/onda e das probabilidades da mecânica quântica.
No uso de Xuan Kong estamos sempre nos referindo às probabilidades de certas ações acontecerem. Não podemos dizer ou afirmar com absoluta certeza, mas sim calcular as possibilidades, por causa do Princípio da Incerteza de Heisenberg. Ele diz que quanto mais você conhece sobre um aspecto, menos você sabe sobre o outro. Isso é o mesmo que analisar uma partícula sub-atômica se movendo no espaço, com uma posição e um momentum. Se você localizar a partícula no espaço, nada pode ser dito sobre aquele momentum. Se o momentum é conhecido você não pode localizá-la no espaço. O único modo de entender a interação das partículas é com um pensamento mais holístico baseado nas probabilidades.
No caso do Feng Shui, estamos analisando o movimento de uma construção (como sua casa) no espaço, com uma posição e um momentum. O movimento está relacionado com os ciclos de energia do calendário chinês, envolvendo principalmente a atração gravitacional que os planetas exercem sobre a Terra. Isso equivale a alinhar as pessoas com os ciclos terrestres e universais. A posição é de acordo com a direção em relação ao norte magnético e o momentum, baseado na data atual e na data de construção de cada local. Sua casa faz parte de todo um sistema que está sempre interagindo com as forças do universo.

Fonte:http://www.fengshui.com.br

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